sábado, 26 de novembro de 2011

Portanto, isto era tudo culpa do Sócrates.

"Bastava pôr a rapaziada direitola dos blogues nos ministérios, Secretas, fundações, empresas públicas e gabinetes, para sermos todos muito felizes. Sócrates partiu em Junho. Em cinco meses, o PSD atravancou o Estado de apparatchiks inomináveis, agravou a carga fiscal de forma iníqua, aumentou o preço dos transportes, colocou a electricidade ao nível do caviar Beluga, fez disparar o desemprego, deu o dito por não dito na Educação, trocou os pés, lamberam bem lambidos os cavalheiros da troika e, para manter entretida a clique ultramontana, criou a comissão Duque, que fez Luanda corar de inveja. A cereja em cima do bolo será a aprovação do Orçamento de Estado para 2012, o qual, entre outras consequências, reduzirá em 15% o rendimento anual bruto dos pensionistas, funcionários públicos (classe que inclui militares e polícias) e trabalhadores do sector empresarial do Estado. Como dizia uma tia da actual maioria, há que pôr a "canalha" com dono.

Cavaco Silva, Presidente da República e Comandante Supremo das Forças Armadas, convocou para hoje (17:30h) o Conselho Superior de Defesa Nacional. Os militares têm dificuldade em perceber o porquê dos cortes previstos no OE 2012. Não deve ser fácil explicar aos generais que não há dinheiro para a Defesa, sabendo eles, com larga soma de pormenores, que dinheiro é coisa que não falta nos gabinetes ministeriais, onde centenas de apparatchiks (a larga maioria sem vínculo ao Estado), são pagos por tabelas obscenas.

Tudo isto no dia da Greve Geral -- em grande parte esvaziada pela frivolidade da "Geral" de Novembro de 2010, sob o alto patrocínio do PSD --, numa altura em que há polícias a passar fome, ou quase. "

[v. Garcia Leandro, RTP-2, ontem, entrevista de Sandra Felgueiras.]


terça-feira, 22 de novembro de 2011

"Neste país há investigadores universitários que estudam todos os dias até altas horas da noite, que trabalham continuamente sem limites de horários, sem fins-de-semana e sem feriados. Há professores universitários que dão o seu melhor, que preparam cuidadosamente as suas aulas pensando no futuro dos seus alunos, que dão o melhor e sem limites pelas suas universidades. Há policias que ganham miseravelmente, que não recebem horas extraordinárias, que pagam as fardas do seu bolso e para sobreviverem têm de prestar os serviços remunerados.
Toda esta gente e muita mais que poderia ser referida foi eleita como a culpada da crise, denunciada como gorduras do Estado, tratada como inutilidade social, acusada de ganhar mais do que a média, desprezada por supostamente não ser necessária para a direita se manter no poder. Mas há uns senhores neste país que ganham muito mais do que a média dos funcionários públicos, que têm subsídios extras para tudo e mais alguma coisa, que cumprem com incompetência as suas funções, que recebem pensões chorudas, que vivem do dinheiro dos contribuintes como todo o Estado, mas que não foram alvo de nenhuma das medidas de austeridade que até hoje foram aplicadas aos funcionários públicos. São os meninos e meninas do BdP.
Ainda as pessoas mal estavam refeitas do anúncio da pilhagem aos seus rendimentos e há um tal Costa, governador do Banco de Portugal, vinha defender que as medidas deste OE deveriam prolongar-se para além de 2014. Isto é, o senhor defende que os cortes se tornem definitivos. No mesmo dia a comunicação social informava que as medidas de austeridade aplicadas aos funcionários públicos não seriam aplicadas aos funcionários do banco de Portugal, o argumento para tal situação era o da independência do banco.
Mas se o Governo não pode nem deve interferir na gestão do BdP e o senhor Costa se comporta como um cruzamento entre a ave agoirenta e o Medina Carreira o mínimo que se espera é que ele dê o exemplo pois nada o impede de aplicar aos seus (incluindo os pensionistas do BdP) a austeridade que exige aos outros. No caso do BdP o senhor Costa não só estaria a adaptar as mordomias dos funcionários públicos e pensionistas do BdP à realidade do país como estaria a dar um duplo exemplo, um exemplo porque aplica aos seus a austeridade que exige aos outros e um exemplo porque chama os seus a responder pela incompetência demonstrada enquanto entidade reguladora de bancos como o BPN ou o BPP.
Por que razão um professor catedrático de finanças ganha menos do que um quadro do BdP, não recebe subsídio para livros como este e na hora da austeridade perde parte do vencimento e os subsídios enquanto o funcionário público do BdP não corta nada e muito provavelmente ainda recebe um aumento?
E já que falamos no BdP que tanto se bate pela transparência das contas públicas e do Estado enquanto o seu governador anda por aí armado em santinha das finanças, por que razão os vencimentos e mordomias do BdP não aparecem no seu site de forma a que sejam conhecidas pelos contribuintes que as pagam? Todas as colocações, subidas de categoria e remunerações dos funcionários públicos são divulgadas no Diário da República mas o que se passa no BDP é segredo, muito provavelmente para que o povo não saiba e assim manterem o esquema.
Ainda a propósito de transparência seria interessante saber porque razão os fundos de pensões da banca vão ser transferidos para o Estado e o do Banco de Portugal fica de fora. O argumento da independência não pega, o que nos faz recear que o fundo de pensões seja abastecido de formas pouco aceitáveis para os portugueses. Seria interessante, por exemplo, saber a que preço e em que condições uma boa parte do imobiliário que o banco detinha por todo o país foi transferido para o fundo de pensões dos seus dirigentes e funcionários.
É por estas e por outras o senhor Costa não tem autoridade moral para propor o mais pequeno sacrifício seja a quem for e deveria abster-se de parecer em público, este senhor só merece a resposta que lhe daria o saudoso Almirante Pinheiro de Azevedo:  «vá bardamerda, snr. governador»!."